Por muitas vezes, reclamamos, queixamo-nos de alguém, em virtude de estarmos descontentes, incomodados com aquela pessoa, e este desconforto vai aumentando diariamente, fazendo com que qualquer coisa naquela pessoa seja o suficiente para gerar irritação e maledicência de nossa parte. Mas, embebidos em nosso viscoso orgulho, ignoramos o fato de que também podemos estar sendo incômodos aos outros, podendo estar incomodando, inclusive, aquela pessoa que acreditamos que está nos incomodando.
A Dna. Maria José, do Centro Espírita que frequento, usou um sábio exemplo para ilustrar isto:
"Uma mulher, ao aguardar seu vôo no aeroporto, decidiu comprar um livro para ler enquanto esperava. E junto com o livro, comprou também um pacote de biscoitos. Sentou-se e começou à ler o livro e comer os biscoitos, quando, para sua surpresa, o homem que estava sentado ao seu lado, pegou um dos biscoitos e comeu, sem pedir, sem nenhuma cerimônia. A mulher então, pensou: "-Mas que absurdo! Que sujeito cara de pau!!!". Mas preferiu ficar quieta.
Ao pegar mais um dos biscoitos, o homem fez a mesma coisa. A mulher pensou: "-Não acredito no que estou vendo!" . Mas preferiu continuar calada. A atitude daquele homem não mudou, e o mesmo prosseguiu pegando os biscoitos até que só um sobrasse no pacote. Quando, para surpresa da mulher, o homem pegou aquele último biscoito. Pronto. Foi a gota d'água. A mulher, indignada, para não dar uns belos sopapos naquele homem, decidiu levantar-se e ir embora. Foi quando, ao guardar o seu livro na sua bolsa, vê que o pacote de biscoitos que comprara, estava ali, fechadinho, intacto. A mulher é que estava comendo os biscoitos daquele homem.
Este exemplo reflete o quanto podemos estar equivocados quando nos colocamos a criticar os outros, a nos sentir "invadidos" pelos outros. Talvez devamos ser mais criticados do que os outros. Talvez sejamos mais invasivos do que os outros. É que nosso orgulho insiste em fazer-nos pensar que somos "a última bolacha do pacote", mas, se sentimo-nos incomodados, podemos ter certeza de que, de alguma maneira, incomodamos também.